O GlowFish é um peixe ornamental, transgênico, criado para brilhar no escuro. Sua comercialização é proibida no país justamente pelo risco de sair de um ambiente controlado para o ambiente natural e contribuir para o desequilíbrio de ecossistemas.
*Matéria originalmente publicada no site Mongabay por Sue Branford, e editada por nossa equipe.
Image by Rubem Porto Jr via Flickr (CC BY-NC-SA 2.0).
O risco da introdução de espécies invasoras
A Bacia do Rio Paraíba do Sul, umas das principais da Região Sudeste, já vive uma situação delicada de desequilíbrio ambiental. Por conta de inúmeros fatores, poluição, falta de saneamento e tratamento de efluentes, agricultura e desflorestamento intensivos, e transformações estruturais realizada pelas hidrelétricas, a Bacia do Paraíba do Sul sofre com o despovoamento de espécies aquáticas nativas.
Todo ecossistema e seu habitat, depende de delicadas interações entre inúmeras espécies. As espécies nativas são essenciais à manutenção deste equilíbrio, onde fauna e flora podem prosperar e se recuperar das intervenções humanas e prosperar.
Quando uma espécie exótica, não nativa, é introduzida em um ecossistema, um estudo prévio faz-se necessário para entender os prós e contras da introdução de determinada espécie. Os riscos de "contaminação" em ambientes naturais são analisados, pois espécies exóticas podem concorrer por recursos junto a espécies nativas, como também ocasionar em "contaminação cruzada", quando espécies alheias começam a se multiplicar entre si.
O GlowFish não passou por estudo semelhante, nem tampouco possui argumentos socioeconômicos que justifiquem sua comercialização ou criação em cativeiro.
“Estou muito preocupado porque esses peixes não nativos podem ter sérios impactos ecológicos, como competir [com peixes nativos] por comida e predar peixes nativos”, disse André Magalhāes, biólogo da Universidade Federal de São João Del Rei, em Minas, à Mongabay.
Magalhães, que é um dos autores do estudo "A introdução fluorescente começou no hemisfério sul: presença e estratégias de história de vida do peixe zebra transgênico Cypriniformes: Danionidae no Brasil", afirma que esses peixes se alimentam de insetos e zooplâncton que os peixes nativos também comem, colocando-os em competição direta. Além disso, nos riachos onde ocorrem os peixes modificados não há predadores para manter seus números sob controle.
Image by Canva.
E uma espécie transgênica?
Os riscos envolvidos são exponencialmente maiores. Pois espécies transgênicas são espécies que não se encontram em habitat natural em nenhum local do planeta. São espécies desenvolvidas em laboratório, onde partes de seu genoma são modificados para ocasionarem determinado resultado. Neste caso, a capacidade de brilhar no escuro e em cores fluorescentes.
O risco da "contaminação cruzada" é altamente relevante para espécies transgênicas, temos como exemplo o mosquito Aedes aegypti transgênico. Em 2017, uma espécie de mosquito transgênico foi liberada no ambiente na Bahia com o intuito de diminuir as populações do mosquito vetor da dengue, zica e chikungunya.
O intuito seria "enfraquecer" a geração subsequente com larvas que não pudessem se desenvolver até à fase adulta. Mas, anos depois, é possível encontrar as partes modificadas do genoma disseminadas em diversas regiões do país, sem a diminuição das populações do mosquito.
Como resultado não esperado, subespécies potencialmente mais resistentes do mosquito Aedes aegypti estão disseminadas na natureza, sob a ação humana, e sem controle.
Entenda mais:
Artigo original Mongabay.
Estudo "A introdução fluorescente começou no hemisfério sul: presença e estratégias de história de vida do peixe zebra transgênico Cypriniformes: Danionidae no Brasil".
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